Pesquisa avançada
O Portal da Língua Portuguesa é um repositório organizado de recursos linguísticos. Pretende ser orientado tanto para o público em geral como para a comunidade científica, servindo de apoio a quem trabalha com a língua portuguesa e a todos os que têm interesse ou dúvidas sobre o seu funcionamento. Todo o conteúdo do Portal é de livre acesso e está em constante desenvolvimento.  ler mais

Dicionário de divisão silábica



Divisão Silábica

Este dicionário apresenta a divisão silábica para efeitos de translineação e a sílaba tónica das palavras do português. A divisão silábica consiste na identificação e delimitação das sílabas de cada palavra, como em me.sa e li.vro. As sílabas são as unidades maiores que constituem a palavra, que por sua vez, são formadas a partir da sequência de elementos (vogais e consoantes). Poder-se-á dizer que a divisão silábica é um conhecimento intrínseco do falante, pois mesmo que este não seja alfabetizado, será capaz de dividir palavras simples, como ca.ne.ta.

A sílaba é constituída obrigatoriamente por um núcleo, que pode ser preenchido por uma vogal, como em ca.sa; ou por duas vogais, uma foneticamente chamada semivogal, como em bei.jo e li.ceu, formando um ditongo. Existe, no entanto, um pequeno número de palavras no português, que contêm sílabas com três vogais, como em pa.ra.guai.o e sa.guão, que formam tritongos. O núcleo da sílaba pode ser precedido ou seguido por uma ou mais consoantes, como em clu.be e pers.pe.ti.va.

Em português, a estrutura silábica mais frequente é Consoante+Vogal (ou C+V), como em ca.sa.co, ou C+V+C como em fe.liz.

Nem sempre a forma gráfica da palavra corresponde à sua forma sonora, assim como por vezes a divisão silábica (ortográfica) não corresponde à estrutura silábica fonética, baseada na produção, da mesma palavra. Como exemplo, o caso das consoantes duplas, como em burro e russo, que representam um único som com dois carateres ortográficos e que foneticamente se dividem em [bu.ʻʀu] e [ʀu.su], e que ortograficamente se dividem em 'bur-ro' e 'rus-so'.

A divisão silábica por regra não atende aos constituintes etimológicos que constituem a palavra, por exemplo, palavras construídas com o prefixo bis- e in- dividem-se em bi.sa., i.na.ti.vo em vez de bis.a. e in.a.ti.vo.

A divisão silábica usada na escrita do português (para efeitos de translineação) está formalizada na base XX, do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AO), de 1990 (em vigor desde 2009). As regras de divisão silábica para a criação deste dicionário foram baseadas no determinado por aquele documento.

Regras Básicas

As regras básicas para a divisão silábica são as seguintes:

Vogais

1) Todas as silabas têm pelo menos uma vogal

ex.: u.va; a.mei.xa

2)Sequências de vogais:

Indivisíveis:

  • sequências que formam ditongos decrescentes (Vogal+Semivogal) ai êi ãi ei éi oi ói ui au áu eu éu iu ou ãe ão õe;
    ex.: mo.sai.co; bau.ni.lha; ca.dei.ra; mu.seu; de.zoi.to; ce.nou.ra; ba.lão;
  • as combinações qu e gu não são separáveis da vogal ou ditongo que lhes sucede, independentemente de o u ser ou não pronunciado;
    ex.: pa.que.te; bi.q.ni; gui.tar.ra; bi.lin.gue; á.gua; lin.gui.ça; tran.qui.lo; e.ques.tre
  • os hiatos (V+V) ea eo ia ie io oa oe ua ue ui uo são indivisíveis quando ocorrem em sílaba átona final;
    ex.: cu..neo; fa..lia; bal.dio; a.mên.doa; in..nua

Divisível:

  • os hiatos e as vogais duplas aa ee ii oo uu dividem-se em duas sílabas diferentes;
    ex.: ve.a.do; fe.ri.a.do; fa.ti.o.ta; ne.vo.a.do; ta.bu.a.da; can.de.ei.ro; sa.loi.i.ce; vo.o

Consoantes

1) Consoantes seguidas de vogais permanecem em início da sílaba (ataque), como em cal.ma. As consoantes seguidas de outra consoante permanece em final de sílaba (coda),como em car.ta.

2) Sequências de consoantes:

Indivisível:

  • os chamados grupos consonânticos, constituidos pelas consoantes b, c, d, f, g, p, t, v seguidas por uma das consoantes l ou r, não são divisíveis;
    ex.: bru.to; cra.vo; ne.gro; pa.la.vra; ce.dro; tri.plo; flor; blo.co; a.tle.ta; cli.en.te; glo.bo;
  • com exceção nalguns casos de palavras compostas por prefixos que terminam em b e d (sub- / ab- /ad-);
    ex.: sub.li.ne.ar; ad.le.ga.ção; ab.le.gar; ab.rup.ção;
  • os dígrafos lh, nh, ch - sequência de consoantes que representam um só som não se separam;
    ex.: pa.lha; ni.nho; bo.la.cha;
  • são indivisíveis os grupos consonânticos cz, ps em início de palavra;
    ex.: cza.ri.na; czar.da; psi.ché; psi.cól.go;

Divisível:

  • são divisíveis todas as sequências de consoantes que não foram mencionadas anteriormente;
    ex.: op.ção; es.co.la; ad.mi.ra.dor; pac.to; s.se.go; bair.ro; p.su.la; tam.bor; la.ran.ja; sim.pa.tia; en.xa.me;
  • sequências de duas ou mais consoantes são dividas nos seguintes modos:
    • se nessas sequências estiver presente um dos grupos consonânticos que são indivisíveis, esse grupo ocupa o ataque da sílaba seguinte e as consoantes que lhe precede ocupam a coda da sílaba anterior;
      ex.: c.trio; obs.tru.ção; pe.lin.tra; pran.cha; com.pli.ca.do; con.gres.so; cons.tru.tor
    • se nessas sequências não ocorrer nenhum grupo consonântico, a divisão é marcada sempre antes da última consoante;
      ex.: trans.por.te; obs.te.tra; arc.ta.ção; sols.tí.cio; disp.nei.a; a.cu.punc.tu.ra

Sílaba Tónica

Como já antes referido, este dicionário apresenta a marcação da sílaba tónica de cada palavra. Esta sílaba é detetada, entre outros fatores, pela forte intensidade em que a sua vogal é pronunciada em comparação com as das restantes sílabas da palavra, que são denominadas como sílabas átonas. A sílaba tónica pode ser apresentada em forma gráfica, que se apresenta pelo uso de um acento gráfico na palavra,como em , .pis, .di.go; ou apenas a nível sonoro, detetando-se pela intensidade da pronunciação de uma sílaba em relação às outras, como em ar, ca.sa, mo.chi.la.

A classificação das palavras quanto à acentuação é realizada a partir da posição da sílaba tónica na palavra:

  • as palavras agudas/oxítonas são acentuadas na última sílaba, como em ma., mu.lher;
  • as palavras graves/paroxítonas são acentuadas na penúltima sílaba, como em .nis, mal.da.de;
  • as palavras esdrúxulas/proparoxítonas são acentuadas na antepenúltima sílaba, como em ín.di.ce, es.drú.xu.la

Existe um pequeno número de palavras denominadas como as Falsas Esdrúxulas, que são palavras terminadas em hiatos (ou nos chamados ditongos crescentes) e que são acentuadas graficamente como graves, como em ca..lia, .doa, am..guo. Esta classificação deve-se ao facto de que se a sílaba final da palavra for pronunciada como um hiato (sequência de duas vogais), ela será acentuada em posição de esdrúxula, como por exemplo, .do.a, mas como os hiatos em sílaba átona final não são divisíveis, porque a sua pronunciação é contínua, fazendo crer que se trata de um possível ditongo crescente, a marcação da sílaba tónica ocorre em posição grave, .doa.

Por norma, as palavras terminadas em o(s), a(s), e(s) e não acentuadas graficamente são produzidas com tonicidade na penúltima sílaba, acentuação de palavra grave, como em ar.ti.go, ca.dei.ra. Todas as restantes palavras, com diferentes terminações e que não são acentuadas graficamente, são produzidas com tonicidade na sílaba final, sílaba de palavra aguda, como em mu.lher, nor.mal, fe.liz, ru.bi, pe.ru, ba.ga.gem, ce.tim, je.jum.

Existe um conjunto de palavras não autónomas que não contêm sílaba tónica, as chamadas palavras átonas. Estas palavras ocorrem sempre em adjacência a outras palavras, elas são: artigos, pronomes oblíquos, preposições, conjunções, pronome relativo que, por exemplo, o(s), a(s), do(s), da(s), no(s), na(s), me, te, se, lhe(s), nos, vos, a, com, de, em, por, sem, e, mas, ou, para, nem, etc.

As palavras compostas por hífen têm duas sílabas tónicas (uma de cada composto), embora seja a sílaba tónica da palavra final que fica em prevalência, por exemplo “lei.te-cre.me “, a sílaba tónica prevalecida apresenta-se sublinhada e a negrito e a sílaba tónica secundária só sublinhada. Em exceção, as palavras compostas por prefixos não acentuados graficamente por meio de hífenes apenas têm uma sílaba tónica, como em “su.per-ho.mem”.

Estrangeirismos

Um fenómeno bastante frequente nas línguas é a importação de palavras estrangeiras provenientes de outras culturas (como, shiatsu) ou para a nomeação de novos conceitos (como, karaoke), a essas novas palavras dá-se o nome de estrangeirismos. Alguns desses estrangeirismos mais tarde são adotados para o português, como cabaré proveniente do francês cabaret, outros fixam-se na língua na sua forma original, como barman e alguns por serem de uso frequente são substituídos por uma expressão ou termo equivalente do português, como caso amoroso para affair.

A divisão silábica de estrangeirismos é um processo de algum modo apreensivo, fundamentalmente por duas razões: o facto da estrutura e a pronunciação deste tipo de palavras não respeitar as regras do português, como em, airbag, que não respeita a estrutura silábica do português nem segue as regras de pronunciação de vogais; e a outra razão é a dificuldade em estabelecer por quais regras de divisão silábica se deve optar, se nas regras do país de origem do estrangeirismo ou nas dos país de chegada, neste caso do português.

Neste dicionário optou-se por dividir os estrangeirismos segundo as regras de divisão silábica do português, embora, em alguns casos, resulte na incompatibilidade do número de sílabas gráficas com o número de pronunciadas. A marcação das sílabas é feita com pontos cinzentos, porque os estrangeirismos não respeitam a estrutura gráfica e sonora do português. Por exemplo, na palavra meeting oriunda do inglês, apenas existem duas sílabas produzidas, do mesmo modo como acontece na sua sua forma gráfica, meet.ing, e a primeira sílaba termina em -t-, segundo as regras de divisão do inglês, mas de acordo com as regras de divisão silábica do português será mee·ting, visto que a consoante -t- não pode ocorrer em posição de coda quando seguida de uma vogal e o número de sílabas pronunciadas será superior ao número de sílabas ortografadas, três sílabas na pronunciação e apenas duas na forma gráfica.

A identificação do acento tónico é outra das dificuldade no tratamento de estrangeirismos, pois a pronúncia da palavra da língua de origem nem sempre é idêntica à da língua de chegada, como em, blackout que em inglês a sílaba tónica é black, mas que em português é out. A marcação da sílaba tónico neste dicionário é realizada tendo em consideração o português e quando se regista variação na pronúncia essa é apresentada numa nota, como em bungalow, no qual a sílaba tónica é produzida em low,embora também esteja registada em bun.

As divisão silábica das palavras derivadas a partir de estrangeirismos, como windsurfista, é marcada com pontos cinzentos na estrutura estrangeira e no resto da palavra com pontos pretos, wind·sur·fis·ta.

 Translineação

O processo de translineação dá-se quando na escrita é necessário dividir uma palavra por ter que se passar para a linha de baixo. A divisão silábica auxilia nos processos necessários à translineação, mesmo que este tipo de segmentação ortográfica seja totalmente convencionado por acordos ortográficos e por obras de referência. Algumas regras de translineação:

As palavras apenas podem ser translineadas no final de sílaba: * pal / avra – pa/ lavra

Não se deve colocar apenas uma vogal na linha seguinte: * gui/a – guia

Não se deve translinear um prefixo ou um sufixo:   * ex / tracurricular – extra/ curricular ; * unicamen / te – unica/ mente

Não é correto translinear um estrangeirismo: * mee / ting

 

Referências

Academia das Ciências de Lisboa. Vocabulário Ortográfico Resumido da Língua Portuguesa. Lisboa: Imprensa Nacional. 1970

Acordo Ortográfico de 1990 (em vigor desde janeiro de 2009)

Acordo Ortográfico de 1945 - Portugal e outros países da CPLP

Formulário Ortográfico de 1943 - Brasil

Bergstrőm, Magnus e Neves Reis. Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Notícias. 2000

Biderman, Maria Tereza Camargo. Dicionário Contemporâneo do Português. Petrópolis: Editora Vozes Ltda. 1992

Cunha, Antônio Geraldo da. Vocabulário Ortográfico. Nova Fronteira da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ediora Nova Fronteira S.A. 1983.

Pinto, José M. De Castro. Manual Prático de Ortografia. Lisboa: Plátano Editora, S. A. 1997.

Consultar

Pesquisa neste dicionário:
ILTEC